Resiste o sonho
como um cordão
por suas
extremidades
tencionado.
Era ele o abismo
negro,
o mistério akáshico
no grande útero da
noite.
Desperta o diálogo
fecundo.
Prenúncio de um
movimento.
Epitáfio de tudo o
que é vivo,
que, meramente por viver,
ora se ergue,
ora se dissolve.
“Como chegaste até
aqui?”
– indaga a Rendeira.
“Saltando os muros,
alcancei os telhados
das Moradas dos
homens.
ouvi um barulho de
guizos.
Segui-o e cá estou.”
– responde altiva.
“Muito embora,
parecias
dormente...”
– insinua o
aracnídeo.
“Vi teu sono.
Tremulavam as notas
agudas
de um flautim
barroco.”
“Meu sono não era
profundo.
Repousava, apenas.
Dispersada a
inquietude impiedosa
dos Centauros filhos
de Íxion,
retorno ao meu posto,
o Alto do Colina.”
“O que meditavas em
tão leve sonho?”
“Dos desejos e das
vontades
que me abrigam neste
mundo.”
“Qual é o teu
desejo, Anjo Lupino?”
“Aninhar-me nos
braços
do Homem que amo.”
“E a tua vontade?”
“Rastreá-lo. Alcançá-lo.
Detê-lo.
Oferecer-me por refúgio.
Devorar-lhe as
carnes
e sorver dele o
caldo sagrado.”
“Então queres
atraí-lo a ti.”
– conclui perspicaz.
“Não aborrecerás a
Mulher?”
“Ela tem procurado
a solitude das
letras mortas.
De que servem os
símbolos,
se não se aproveitam
os instantes
dadivosos
que a vida
presenteia?”
“A vida é
traiçoeira.
Oferece toda a sorte
de distrações e
prazeres
para fiar a atenção,
enquanto aciona o
gatilho
para deflagrar a
armadilha.”
“A vida é dádiva
que espera em
silêncio.
É necessário abrir
os olhos
e tomá-la por
direito.
Os gravetos e tocos
velhos
caídos no chão
educam a acuidade.
As pedras falam aos pés.
Os espinhos e os
mourões
tornam a todos
resistentes e rijos.
Viver não pode ser
simplesmente
vicejar.”
“É justo romper a
crisálida
e quebrar os muros
do silêncio?”
“O silêncio já fora
quebrado.
A Mariposa está
pronta!”